13 de novembro de 2008

Sinais do tempo



"Habitantes de Maldivas planeiam a mudança...
A ameaça do aquecimento global ao arquipélago leva os seus 300 mil habitantes a estudar a hipótese de transferir a nação para um outro lugar."

Jon Henley, The Guardian.

O que faria se fosse o presidente recém-eleito de um pequeno país, relativamente pobre, cuja fama - garantida pelas suas praias, algumas das mais belas do mundo - deve-se também ao facto de que tem sido lentamente engolido pelo oceano?
Obviamente, não perderia tempo fazendo lembrar isso ao mundo...E para enfatizar a urgência do problema, faria o espantoso anúncio de que estuda seriamente a possibilidade de transferir toda a nação para um outro lugar.
Pelo menos, foi o que fez, esta semana, Mohammed Nasheed, o primeiro presidente das Ilhas Maldivas eleito democraticamente.
Seu plano é começar a reservar uma parte da generosa receita proporcionada pelo turismo no seu país,para criar um fundo destinado à compra de terras.
“Não podemos fazer nada para deter, por nossa conta, a mudança climática, por isso precisamos comprar terras noutro lugar.
É uma apólice de seguro antevendo o pior futuro possível”, afirmou na véspera da sua posse.
“Não queremos deixar as Maldivas, mas também não queremos nos tornar refugiados do clima e morar em barracas durante décadas.”
A ideia é intrigante, e ao mesmo tempo profundamente deprimente: é a primeira nação do mundo obrigada a abandonar sua pátria em consequência do aquecimento global e do constante aumento do nível do mar.
Nasheed fala basicamente em transferir os 300 mil habitantes das Maldivas para a Índia,para o Sri Lanka ou possivelmente,para a Austrália.
Mas mesmo que esta triste perspectiva fosse aceite, seria concretamente viável?
Seria possível transferir todo um povo para um novo país, erguer casas e ali retomar a própria vida como se nada tivesse acontecido, à parte o infeliz desaparecimento de sua pátria de origem? O consenso geral é de que isso não seria possível.
“Para um Estado, enquanto tal, a mudança seria muito difícil”, afirma Graham Price, director do programa para a Ásia do Royal Institute of International Affairs.
"Evidentemente, poderão vir a existir migrações, até mesmo de um número muito grande de pessoas. Mas, neste caso, existem enormes problemas de jurisdição, questões de soberania", disse. "Além disso, é um problema concreto, um problema ao qual deveremos nos acostumar. Queremos permanecer unidos, não queremos perder a nossa cultura. Não é por nossa culpa se isto está a acontecer”.
Lembro que as 1192 ilhas que compõem o arquipélago das Maldivas não estão a mais do que 2,4 metros acima do nível do mar e a maioria do território habitado está apenas a um metro de altitude. A capital, Malé, está a 90 centímetros do nível do mar e, só aqui, vivem 100 mil pessoas.

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